quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Uma ideia do moderno
Weimar, Alemanha, em 21 de março de 1919. Foi quando o arquiteto Walter Gropius assumiu a direção das duas escolas de arte da cidade alemã, unificando-as sob o nome de Bauhaus (em tradução livre, "casa para construir"). Surgia o "design para todos", radicalmente oposto à "arte de salão", clássica. A Bauhaus nasceu pretensiosa: financiada pelo Estado alemão, reunia intelectuais de esquerda, uma dinâmica de forças em constante choque ideológico. Para muitos, a escola teria uma estética totalitária. Em seu manifesto inaugural, Walter Gropius deixou clara a intenção de popularizar o design, tornando-o síntese das artes e ofícios. Não é à toa, portanto, que a Bauhaus continua a interessar: ela é estímulo para questionar a arquitetura e o design atuais, ambos à mercê dos caprichos da indústria. Desenho racional, paleta de cores que prioriza o azul, o vermelho e o amarelo, o geométrico e o assimétrico substituindo o ornamento. "Na época em que a escola foi fundada, a produção em massa desprezava qualquer preocupação com a funcionalidade", lembra o arquiteto Aurelio Martinez Flores, admirador da escola alemã. "Chega então a Bauhaus com outro conceito: o mais importante é a habilidade técnica. Assim, as criações nada teriam além do absolutamente funcional - o fim dos enfeites desnecessários." No mobiliário, isso se materializa nas linhas puras da cadeira Wassily, de 1925: o desenho está a serviço do conforto, o aspecto do móvel é de leveza - a Wassily em nada remete ao rebuscamento do fim do século 19, por exemplo. No morar, a Bauhaus propunha a superação de estilos como o barroco. Uma das formas era brincar com os volumes da fachada, o que evoca os quadros de Mondrian. Em 1927, um grupo de 17 arquitetos - entre eles Mies van der Rohe, Walter Gropius e Le Corbusier - montou uma exposição de arquitetura em Stuttgart. Nela, quase 500 mil pessoas se surpreenderam com a série de habitações coletivas, de fachada sóbria e aberturas repetitivas, ousadia que enchia as construções de luz e ventilação. Por dentro, plantas flexíveis e abertas.
O ideário da Bauhaus era mutável, jamais uma cartilha seguida por todos. Mies van der Rohe era praticante de uma arquitetura grandiosa - e que se tornou significativa em sua carreira individual. "Já Walter Gropius teve papel ligado sobretudo ao ensino e à divulgação da Bauhaus", chama a atenção o arquiteto Marcelo Suzuki, outro fã da escola alemã. Não por acaso, insiste-se, Gropius e Mies van der Rohe sintetizam os momentos mais importantes da Bauhaus. O primeiro por ter criado os seus fundamentos e levado a escola para a cidade de Dessau em 1925 - foi então que ela realmente passou a atrair especialistas de toda a Europa, com alunos e professores chamando a atenção em feiras internacionais. Nessa época, o húngaro Marcel Breuer, que havia estudado em Weimar, tornou-se professor de desenho - em pouco tempo, ganhou a reputação de melhor designer de mobiliário da Bauhaus. Van der Rohe, por sua vez, assumiu a direção quando ela esteve em Berlim (1932-33). O seu envolvimento com socialistas e artistas soviéticos motivou perseguições políticas a ponto de a escola ser fechada pelos nazistas em 1933. Mas o que deveria ser o ponto final da história da Bauhaus representou, de fato, o momento de maior difusão de seus ideais. Gropius passou anos lecionando arquitetura em Harvard, divulgando sua ?arquitetura?. Mies van der Rohe ergueu os arranha-céus de Chicago e, a convite de Le Corbusier, veio ao Brasil - aqui, projetou a sede do consulado dos EUA, em São Paulo, no fim de 1950. Não houvesse a experiência em Chicago, Mies van der Rohe não teria transcendido à própria Bauhaus em nome de sua assinatura - a linguagem do vidro, do aço e do concreto que tanto marca a arquitetura contemporânea. Ironicamente, pouco da Bauhaus foi produzido pela indústria da época - boa parte do mobiliário só se popularizou nos anos 50, quando empresas como a norte-americana Knoll editaram peças dos designers que haviam imigrado para a América.

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